sexta-feira, 21 de março de 2014

Pó.

A Morte chegou.
Acena-me convidativa com um piscar de olho,
Ao qual respondo que não.
Não, não quero ir já.
Denoto uma leveza e sinto que plano.
Olho em redor e não estou mais aqui (ou será ali?)
O que é feito da unha com carne se a carne se foi e a unha não sinto?
Pressinto um nó na garganta que não desmancha...
Espero o choro que não vem,
Afinal, a necessidade fisiológica há muito que cessou.
Busco em redor os meus que não encontro:
Nem vivos, nem mortos.
E pergunto-me: Afinal onde estou?
Onde está o feliz reencontro e as lágrimas da partida?
Onde está a brilhante luz a seguir?
Ao que A minha parceira comenta, aproximando-se:
Não tenho todo o tempo do Universo, vamos perpetuar esta filosofia barata?
Não compreendo... Afinal, se morri para onde vou?
Se vou porque aqui estou?
A vida é uma curta etapa dum caminho labiríntico onde o fim não existe e o círculo não se fecha,
Andarás daqui para acolá sendo Eu apenas A guia entre uma das fases.
Nunca te lembrarás onde estiveste ou quem foste, será sempre um novo início dum hipotético fim,
Pois nada se cria, nada se perde, mas tudo se transforma.
E foi aí que me apercebi:
O medo sempre foi real.
A abstracção da Terra até ao negrume do infinito sempre foi correcta e,
Somos apenas peões, no meio de ligações covalentes das várias reacções de vivência.
Criamos relações, alimentamos egos, contracenamos na História da Vida mas,
No início e no fim, seremos sempre o mesmo: pó.

A Morte chegou.
A Morte chegou e levou-me piscando-lhe o olho tristemente.

sábado, 26 de outubro de 2013

1.

Procuro nas entrelinhas do sorriso a tristeza de que padece a minha alma... Não encontro. Serei eu uma boa jogadora neste tabuleiro da vida, ou apenas um tolo peão que se julga mais esperto que os outros?
Guardando a mágoa do acumular de momentos, corroendo os sacos lacrimais com meus tormentos, vejo que engano somente a mim mesma... A mente não pára,  o sentimento é corrompido e o que outrora era certo tornou-se parte integrante das incertezas do Fado... E nisto apenas penso: não seria preferível ser a minha própria companhia numa arca de Noé?



Miau.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

De início se chega ao fim.

Pensa, respira, sente.
Vive, ama, loucamente.
Sê quem podes e não podes ser,
Sê quem queres e não podes ter,
Tem o que anseias sem saber.
Rápida. Veloz como um trovão
Livra-te das cordas que tanto te prendem ao chão.
Segue o teu caminho sem para trás olhar,
O mundo é infinito, há muito que amar.
Amar sem razão, sem a razão do saber.
Amar porque sim e não porque tem que o ser.
Percorrendo o caminho da incerteza
Encontrarás por certo a maior beleza,
Mantendo-te fiel à inocência e humildade,
Recordando o passado, ainda que negro, com saudade.
Pois nele reside o maior tesouro,
O porquê de quem foste e de quem és, que tanto adoro.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Pandora.

Respira. É o que digo continuamente no meu pensamento. Respira profundamente e expira. 

Por mais que tente não consigo, é este nó que se instalou na minha garganta e não me deixa respirar... Aquele tão típico dos momentos de choro contido, de sentimento acumulado, aquele que não queremos demonstrar mas que, eventualmente, todos vêm. Sim, aqueles que nos conhecem verdadeiramente, conseguem descodificar até o mais subtil dos desvanecer dos sorrisos, os outros...nem me importa. É triste a frieza ser tal que não nos permitimos o choro, que o empurramos para as profundezas do nosso esófago para que aí fique, quieto, a doer e doer cada vez mais. Um dia expludo com certeza, mas hoje ainda não é o dia... Verter uma lágrima não faz mal, mas chorar num pranto não, isso não vai acontecer. "Já passa", digo para mim mesma numa voz desconcertante que tenta parecer calma a todo o instante mas, minha querida voz, conheço-te tão bem que não me enganas... Não passa, acumula. Não passa, perdura. Não passa, fica guardada com rancor lá bem no meu interior. E instala-se-me uma dor de cabeça angustiante... Não é de admirar, tal é o choro e agonia contido, os gritos guardados e as raivas fechadas. Sou a minha própria caixa de Pandora. É isso mesmo. Aqui tudo está guardado a sete chaves e devo, com todo o meu esforço, proteger esta fechadura. Já lá vão os dias em que chorar fazia bem, pelo menos de quando em vez, agora nem consigo... Pelo menos com os acontecimentos referentes a mim mesma... Cada vez faço mais esforço para não verter muitas lágrimas pois, como eu bem sei, de nada me serve. Por isso deixa-te ficar, minha caixinha de Pandora, esconde-te bem pelo meu corpo fora e não te deixes apanhar que, as tuas chaves, eu não irei entregar. Remexer no passado? Não, deixa ficar, um dia deixará de incomodar... O presente? Vive e deixa-o passar, mas aproveita! Sem chorar... As minhas lágrimas são sagradas. Agora são.

Depois desta escrita sim, já posso respirar um pouco.









P.S.: Gostaria de agradecer a PL por me ter mostrado músicas tão fantásticas e que me aquecem quando me sinto mais em baixo. Obrigada.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ao som de: Turning Tables - Adele

Lembro-me perfeitamente de ter o coração partido.

Lembro-me perfeitamente de ter partido corações.

É triste, é doloroso, e mata-nos de dentro para fora, lenta e progressivamente... Quando nos partem o coração parece que tudo nos cai sobre os pés, que a gravidade nos puxa ainda mais para o interior da terra mas, ao fim e ao cabo, é apenas o coração a ser completamente despedaçado. E não vale a pena todas aquelas almas penosas nos virem dizer que tudo vai passar, que tudo vai ficar bem e que é apenas uma fase, que somos fortes e ultrapassamos porque, naquela altura, não é que não saibamos que algum dia as coisas terão que melhorar e seremos felizes outra vez, apenas não estamos com discernimento suficiente para tal... Porque, afinal, os sentimentos e as emoções têm a capacidade de nos fazer sentir coisas que nunca sentimos e de pensar coisas que nunca pensámos, têm a capacidade de nos deixar loucos, desnorteados, alienados da vida por completo. Ás vezes preferia não ter sentimentos e acabo por ser uma pessoa fria. Fria e desumana, que magoa mas que ama... Mas depois penso: se não tivesse sentimentos como aprenderia? Afinal, de desilusões e de alegrias construimos a nossa vida, não é? Pois é. Sofrer para aprender, viver para ser feliz, chorar para acalmar, sorrir e conseguir. Mas não são apenas as desilusões e as alegrias que os outros nos dão, são também as desilusões connosco, as desilusões próprias por assim dizer, e as alegrias também! Já que, por exemplo, quando alcançamos um objectivo desejado ficamos contentes e felizes connosco! Sentimos um formigueiro interior e uma alegria crescente, e um sorriso que se desenha por si só, sem darmos conta. E que boa que é essa sensação... No enttanto, é importante voltar ainda a um ponto falado anteriormente: o das desilusões. É sabido que os outros nos desiludem vezes e vezes sem conta, mas é deveras importante que saibamos quando nos desiludimos a nós mesmos e, com isso, aprender a não o repetir, porque não são só os outros que nos ensinam, também aprendemos sozinhos. Ohh, e o que eu já aprendi sozinha... A chorar por vezes, lavadíssima em lágrimas e a sentir-me a pior pessoa do Universo, mas soube dar a volta e tirar daí uma lição, ainda que o orgulho teima-se em não me deixar ver a Razão.

Agora, neste preciso momento, sou uma pessoa melhor que à pouco mas pior que daqui a bocado, pois todos os instantes são novos ensinamentos e todos os ensinamentos acrescentam algo de novo ao meu ser. Para o Bem e para o Mal irei sempre ter novas ideias e novos pensamentos e novos sentimentos e novas emoções mas, independentemente do que possam dizer, serei sempre eu mesma, pois apesar de tanta novidade que nos invade ao longo dos dias, das horas, dos minutos, há algo em nós que não muda, que é sempre o cerne de quem somos, que faz de mim a Carolina e de ti quem tu sejas. Pelo menos é assim que eu penso...

Por isso, agradeço aos corações que quebrei e a quem quebrou o meu, pois agora somos todos pessoas mais fortes, cada um à sua maneira, pois as lições retiradas de uma mesma desilusão (como é o caso) ou de uma mesma alegria são diferentes para todos: a Moral da história é designada por ti, por mim, pelo outro, e nunca por um ser superior que nos ordena o que retirar dali. Eu sou eu, e não tenho a mesma visão que tu. Mas pronto, apesar das lições retiradas não vale a pena dizermos a célebre frase de quando nos recordam um mau bocado que passámos: "ah, já nem me lembrava disso!..." porque, muito sinceramente, é mentira. Tudo deixa cicatriz, tudo deixa a sua marca e, exemplo disso, é a forma como comecei este texto e, também, como o vou acabar.


Lembro-me perfeitamente de ter o coração partido.

Lembro-me perfeitamente de ter partido corações.

                                                                                                                                            Miau.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Peniche 2011

É estranha a divisão
Do nosso coração
Em metades invisíveis
De paixão.
É estranho o sentimento
De completo desalento
Quando em redor nada mais há
Sem ser nuvens e vento... 
E, assim, dou por mim sozinha
Num qualquer beco, numa qualquer esquina,
Assolada pelo receio da solidão,
Da incompreensão e do fado mal amado,
Onde, ser feliz, é considerado um achado.
E, entre divisões e desalentos,
Coabita uma mistura de sentimentos
Que me leva a duvidar até de quem sou.
De quem sou e do que quero,
Do que anseio, do que espero,
Do que em sonhos já tive e, em vida,
Nunca terei.
É estranho entristecer 
Por saber que o adormecer
É mais feliz que o acordar
E mais óbvio, sem duvidar.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

   Nunca vivi na realidade. Ou melhor, vivi, mas resolvi apagar da minha memória todos os momentos em que senti que a mágoa, a dor, o cravar sentido de uma farpa no coração, me arrancavam um pedaço, me entristeciam, me faziam ver que este sítio onde vivemos não passa disso mesmo: de um sítio. E com sítio quero dizer apenas um lugar onde nada devemos a ninguém mas todos nos devem a nós, em que reina o rico e morre o pobre, onde existem problemas de obesidade e gente a morrer à fome, onde espezinhamos quem purifica o ar que respiramos, entre tantas outras coisas estranhas que, sinceramente, não cabe na cabeça de ninguém. É tão triste este Mundo em que vivo... Mundo este que por si só era perfeito mas que teimamos em estragar...
   Mas, e voltando ao tema inicial, não vivo na realidade, não suporto as injustiças, não quero acreditar na maldade por prazer e, todos os dias, sou apanhada no fogo cruzado entre o meu mundo perfeito e o mundo real... Choro, não quero acreditar, não suporto o aperto na garganta, aquele aperto que sentimos quando não queremos chorar e fazemos muita força para que tal não aconteça... Para que não pensem que somos uns patetas choramingas... Mas é impossível reter alguma lágrima perante os actos maquiavélicos que estes seres humanos, que se consideram muito racionais, têm. É ridícula tanta maldade, tanta indiferença. Serei a única pessoa a achar que a loucura se instalou de vez? Serei a única a pensar que nada disto é normal? Começo a acreditar que sim... Quando somos governados por pessoas que não mexem um dedo em prol dos outros, quando vemos inocentes a serem bombardeados por questões que nada têm que ver com o seu bem-estar (e venha petróleo!), quando vemos crianças a serem espancadas, outras enjauladas e estes senhores ficam quietinhos no seu sofázinho fofinho a ver o seu canalzinho preferido... Tão queridinhos, não são? Ridículo. 
   É melhor terminar por aqui, que a realidade é mesmo uma porcaria e, por isso, mais vale fazer como sempre fiz: tentar nunca viver na realidade, ansiar um mundo perfeito, onde todos são bons, onde todos são felizes. Pelo menos não choro, não me enervo, não sofro e, como tal, vou desligar a televisão dos canais de informação que, dali, nada de feliz virá, só desgraça.


                                                                                                                                                     Miau.